Falamos "Lá fora" quando queremos nos referir as fazendas, lá no Rio Grande do Sul.
Este é um o retrato documentado de velhas experiências, que escrevi nestas férias de volta ao lugar onde cresci.
Foi uma semana pra descansar no paraíso. Reencontrar velhos amigos e alimentar a alma com sentimentos por vezes esquecidos.
A casa sem luz, o telefone sem rede, o dia-a-dia sem nenhum luxo e a gente colecionando momentos daqueles que fazem a vida valer a pena.
Pela manhã, a natureza canta seu som revigorante em uma música de paz, e quando o dia vai terminando o sol se despede pintando o céu em todos os tons. Sei que depois a lua vem cheia iluminando a noite, o grilo canta, o sapo grita, e as estrelas enchem o céu escuro com o brilho que a cidade não nos deixa mais ver.
O pão é de casa, o café é forte, o feijão só precisa de carinho pra temperar e a salada cresceu na horta. Ao redor da mesa saudade, do passado e do presente sendo vivido, porque é raridade.
O doce de figo de janeiro, a figada em fevereiro, cuidado com as cobras debaixo da figueira. No inverno tem bergamota no pé e a lenha queimando na lareira o dia inteiro.
Às vezes tem mogango, o leite vem de manhã cedo da mangueira, de sobremesa a gente combina os dois num prato fundo depois do almoço e fecha o banquete com um chá de folha de laranjeira.
Nada vem pronto, tudo tem de ser feito, e com a mão na massa foi assim que a gente aprendeu que pelo campo, a gente tem é que ter respeito.
O paraíso é longe da onde decidimos morar, meus pais, minhas irmãs e eu, cada um encontrou um novo lugar pra chamar de seu, mas as mesmas portas que deixamos pra trás pra abraçar o mundo, ficam abertas pra qualquer hora que quisermos voltar, e foi preciso com esses olhos ver outros horizontes pra então lembrar que o paraíso é mesmo onde o coração decidir pousar.
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